O fotógrafo das estrelas ganha homenagem em livro com imagens raras i3l19
Obra organizada por Carlos Leal celebra o legado de Antonio Guerreiro com retratos de personalidades como Caetano, Nelson Rodrigues e Gal Costa 2p46l

Nos anos 1970 e 1980, era difícil encontrar uma figura proeminente da cultura brasileira que não tivesse ado pela lente de Antonio Guerreiro. Conhecido como “o fotógrafo das estrelas”, ele se destacou por criar retratos que iam além da estética: suas imagens buscavam captar a essência dos retratados, numa época em que liberdade de expressão era restrita e o país vivia sob regime autoritário. Seu estúdio no Rio de Janeiro, frequentado por nomes como Leila Diniz, Caetano Veloso, Gilberto Freyre e as Frenéticas, funcionava como um reduto artístico, onde a ousadia e a sensualidade conviviam com a resistência política e cultural.

Agora, parte dessa produção é reunida no livro Antonio Guerreiro – Portraits, organizado por Carlos Leal e publicado pela Barléu Edições. A obra traz dezenas de retratos e textos assinados por nomes como o fotógrafo Bob Wolfenson, que foi assistente de Guerreiro nos anos 1970, o cineasta Luiz Carlos Lacerda e a irmã do fotógrafo, Fernanda Brito Ferreira Neves. Juntos, os relatos e imagens ajudam a compor um panorama da trajetória de Guerreiro, desde o início como fotógrafo de socialites até sua consolidação como um dos grandes nomes da fotografia brasileira.


Além de seu domínio técnico — notadamente no uso da luz, comparado por alguns à pintura de mestres como Rembrandt e Caravaggio — Guerreiro se destacava pela construção de cenas intimistas, nas quais modelos e artistas pareciam à vontade, mesmo em poses ousadas. Suas fotos de Sandra Bréa, Sônia Braga, Maria Bethânia e Nelson Rodrigues não apenas ilustraram capas de revistas e álbuns, mas também registraram com sensibilidade uma geração que desafiava padrões e se afirmava por meio da arte.

Embora tenha enfrentado a censura em diferentes momentos da carreira, o fotógrafo manteve-se atuante até os últimos anos de vida. Guerreiro morreu em 2019, aos 72 anos, no Rio de Janeiro, vítima de câncer. O livro lançado agora não se propõe a encerrar sua história, mas a ampliá-la — oferecendo ao público uma amostra de seu olhar e reafirmando sua importância para a memória visual do país.
