
A nova rodada da pesquisa Datafolha confirma o que já se desenhava nos bastidores do governo: o processo de recuperação na popularidade do presidente Lula foi interrompido de forma contundente.
Com 28% de aprovação e 40% de reprovação, os números retomam o pior patamar de avaliação negativa de seu terceiro mandato, colocando fim ao alívio temporário registrado em abril.
A queda, ainda que dentro da margem de erro, ganha peso simbólico por sinalizar que a crise do INSS atingiu em cheio a percepção pública sobre a integridade e a eficácia da gestão.
O escândalo revelado pela Operação Sem Desconto da Polícia Federal, envolvendo o desvio de cerca de R$ 6 bilhões em descontos ilegais sobre aposentadorias, se tornou um catalisador de desgaste.
A tentativa inicial do Planalto de atribuir a origem do esquema ao governo anterior não surtiu o efeito esperado — especialmente porque as práticas ilícitas se estenderam até 2024, já sob responsabilidade da atual gestão.
A reação lenta e descoordenada, incluindo o enfraquecimento do ministro Carlos Lupi e o jogo de empurra institucional, comprometeu a narrativa de controle e transparência.
A pesquisa revela que o impacto foi sentido mesmo entre os eleitores tradicionalmente mais simpáticos a Lula. Entre os que ganham até dois salários mínimos, a aprovação oscilou positivamente (de 30% para 32%), mas a reprovação ainda atinge 33%. Já entre os entrevistados com ensino superior, a aprovação caiu de 31% para 25%.
Isso reforça o diagnóstico de que o governo enfrenta dificuldades não apenas na comunicação de suas ações, mas também na preservação de alianças e na sustentação da base social que o elegeu.
Além da crise do INSS, outros episódios recentes ampliaram a percepção de desgoverno. A queda abrupta na avaliação entre dezembro e fevereiro foi motivada por falhas na comunicação sobre o Pix.
Soma-se a isso o vaivém em medidas fiscais, como o IOF, e o desgaste provocado por declarações polêmicas de aliados.
Mesmo com a entrada do marqueteiro Sidônio Palmeira no comando da comunicação, o Planalto parece incapaz de ditar o tom do debate público ou antecipar o impacto de suas próprias ações.
No terceiro ano de mandato, o governo Lula enfrenta não apenas a pressão da oposição, mas também a deterioração de sua capacidade de resposta a crises.
O desgaste da imagem presidencial não é apenas conjuntural: ele aponta para uma erosão mais profunda de confiança, que pode comprometer ainda mais a governabilidade no Congresso e o capital político necessário para enfrentar temas estratégicos. O Datafolha soa o alarme — e o Planalto, mais uma vez, sangra diante da opinião pública.