A crítica de ministro de tribunal a auxílio que ele não deixa de receber 3y6b6o
Crítica de Bruno Dantas aos penduricalhos reproduz comportamento de políticos que usufruem dos privilégios que denunciam 3f2l40

Ao declarar, em fórum do grupo Esfera Brasil, no Guarujá (SP), que tem “vergonha de receber penduricalhos” – ao mesmo tempo em que não abre mão da verba –, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas segue um caminho percorrido, nos últimos anos, por organizações políticas que, com a mão esquerda espalmada, recolhem os mesmos pagamentos que condenam com o dedo direito em riste.
Segundo relatos do evento reproduzidos na imprensa, a fala de Dantas foi acompanhada de aplausos, arrematados por outra declaração: “é preciso que haja um pacto coletivo. O que não é possível é o TCU cortar os ‘penduricalhos’ e todos os outros tribunais do Brasil pagarem ‘penduricalho’, porque daí eu rebaixaria o TCU”.
O diagnóstico do ministro está correto: apenas um esforço geral de todos os Poderes, em todos os níveis, será capaz de resolver a situação. O que gera estranhamento é que, enquanto o consenso não vem, ele esteja disposto a continuar embolsando os recursos paralelamente ao derramamento das críticas.
Nessa postura, Bruno Dantas se aproxima de uma prática política que se tornou corriqueira: partidos e candidatos que, apesar da posição ferrenha contra o financiamento público de campanha, dele se valem, a pretexto de manter a paridade de armas.
Bruno Dantas poderia abdicar de seus montantes, como uma voz solitária a constranger marajás. O gesto certamente agregaria mais apoio à causa do que palavras soltas – sobretudo quando dirigidas a uma plateia de empresários de setores que, juntos, também acumulam benefícios em termos de desfalques no orçamento público.