
O que têm em comum o sorvete de casquinha, a Torre Eiffel e o parque da Ciutadella em Barcelona? O fio pode não ser tão visível, mas existe: os três foram apresentados ao mundo em uma Exposição Universal. Nos próximos dias, vou visitar a edição atual, em Osaka, e me pergunto quais maravilhas me esperam no Japão. Desde a primeira vez que diversos países se reuniram para mostrar os prodígios da indústria — em Londres, em 1851 —, as exposições universais funcionam como uma grande vitrine da tecnologia.
Mesmo que, hoje, novas descobertas surjam diariamente e sejam comunicadas em tempo real pela internet, essa aura ainda envolve as exposições, e todos aguardam ver, ao vivo ou no noticiário, o brilho do engenho humano.
É improvável que, hoje, algum inventor espere cinco anos para exibir numa “expo” algo tão revolucionário ao cotidiano como uma escada rolante — assim como o telefone, o elevador e a máquina de raios X, só para ficar em alguns exemplos que foram apresentados em edições que aconteceram entre os séculos XIX e XX . Contudo, as exposições vêm se ocupando de dilemas complexos, como a vida nas cidades e as relações entre a natureza e a tecnologia. Nelas, os países se empenham em pôr ciência e cultura a serviço de grandes desafios.
“Os países se empenham em pôr ciência e cultura a serviço dos grandes desafios”
Neste momento, em Osaka, mais de 150 países se reúnem sob o tema “Projetando a sociedade futura para nossas vidas”. Estão em pauta questões que muito me interessam, como a saúde planetária, o envelhecimento populacional e a alimentação. Neste último ponto, aliás, as exposições têm um currículo respeitável. Não penso apenas na casquinha do sorvete mencionada no início do texto. Esta, na verdade, nasceu na Exposição Universal de St. Louis, em 1904, por obra do acaso: um vendedor de sorvetes se viu sem taças e pediu ajuda a um sírio que vendia wafers ao seu lado, que resolveu o problema moldando a massa em forma de cone.
Muito além de iguarias, porém, as expos popularizaram a comida enlatada, os avanços da pasteurização e as máquinas de gelo, por exemplo. Em 2015, a Expo de Milão dedicou-se inteiramente à sustentabilidade, ao escolher o tema “Alimentando o planeta, energia para a vida”. Startups de vários países apresentaram protótipos de carne cultivada e alimentos produzidos por impressão 3D, tecnologias que hoje começam a sair dos laboratórios. E se o açaí se popularizou na Europa na última década, em parte é porque ali o Brasil o apresentou como superalimento. Hoje, no Japão, são exibidas embalagens com sensores que detectam deterioração, pacotes comestíveis e métodos de conservação de alimentos com energia solar.
As exposições também deixam um legado nas cidades. A Torre Eiffel é a prova mais cintilante disso, mas não a única. Investimentos em transporte e lazer, pensando na afluência de turistas, são legados desses eventos de massa.
Claro que nem tudo é celebração. A Exposição de 1937, em Paris, revelou os horrores do bombardeio de Guernica através da obra de Picasso. Pois, se queremos falar do mundo como um todo, aparecem também as tensões.
Exposições universais são mais que gabinetes de curiosidades, são palcos para a mudança. Elas nos convocam a percorrer o retrato do planeta desenhado em seus pavilhões — e, assim, nos fazem estar presentes para refletir sobre o futuro.
Publicado em VEJA de 13 de junho de 2025, edição nº 2948